quarta-feira, 12 de março de 2008

Inglesismos I

Uma dos factores mais proeminentes do design (e ainda mais do marketing) made in Portugal é o uso da língua inglesa como factor de valorização qualitativa dos trabalhos e das estratégias. Mas de onde veio esta noção, muitas vezes inconsciente, de que ao colocarmos inglês numa t-shirt, num cartaz ou no nome de um produto, estamos não só a elevá-lo a categoria do design avant-garde como também a premeditar-lhe o sucesso, como algo garantido pelo favor dos deuses?

É fácil tecer as justificações do costume, que o inglês é a língua mais falada do mundo (o que é uma falácia, pois esse lugar é ocupado pelo mandarim) e como estamos numa época de globalização, não podemos trabalhar para "minoria" que fala português (Portugal, Brasil, Macau, Angola, Moçambique, Cabo Verde...). Parece-me no entanto que aquilo que o subconsciente, de quem usa o inglesismo como regra, está realmente a formular é "em português soa mal e parece menos sério".

Não estou a condenar que ingenuamente deixem o preconceito e o estereótipo ganhar na luta racional que fazem na execução de um trabalho, até porque é fácil perceber de onde essa resistência surge.

Primeiro da nossa educação que teima em não privilegiar e incutir o orgulho pela milenar cultura lusitana, porque ao contrário de povos como o americano, que têm uma história curta e manchada pela violência, os portugueses têm uma história que remonta a milénios antes de Cristo, recheada de períodos violentos mas também com uma tolerância e pluralismo cultural que é inveja de muitos historiadores estrangeiros.

Segundo por uma questão simples. Todos os bons livros de design e todos os grandes teóricos do design são estrangeiros! Ora se desde novos lemos sobre design em inglês é perfeitamente normal que passemos a associar automaticamente o inglês com design (e que pensemos que se não for assim é foleiro).

A questão está em perceber se estamos no trabalho em mãos a cair na esparrela do nosso inconsciente ou a assumir a escolha como algo que faz sentido do ponto de vista funcional, ou seja, se a mensagem beneficiar dessa escolha. Cada trabalho é um caso e temos de pesar sempre cada factor para o sucesso do todo.

Há ideias que decerto surgem em inglês logo mas o que todos os profissionais da criatividade afirmam é que devemos ter sempre resistência à primeira ideia, não significa que a abandonemos mas esta tem de ser estudada e pesada face a outras, antes de nos atirarmos de cabeça. Porque nem sempre o que surge em inglês fica mal em português e vice-versa e porque quem se atira de cabeça para uma piscina sem água... acaba por rachá-la.

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